segunda-feira, 8 de junho de 2009

Do Branco ao Negro

Crescí ouvindo os locutores da 89 FM, a rádio rock, um deles era o Sandro Anderson.
Essa noite ele morreu, após colidir com sua motocicleta em um poste da avenida Ramiro Corleone em Santo André.
Suspeita-se que o radialista estivesse embreagado, pois voltava de uma festa. Sei porque, como repórter cinematográfico, fiz a cobertura desta matéria.
Os veículos de comunicação formam um universo fechado, as pessoas se conhecem! Na redação da emissora onde trabalho, não demorou para colegas de Sandro perguntarem sobre o acidente: "Foi feio?" "Como ele ficou?"
E lamentavam então a morte do colega. Já eu, só conseguia pensar na noiva que ele deixou, pois a festa de onde ele saíra era sua própria despedida de solteiro para o seu casamento que deveria ocorrer hoje, dia oito de junho.
Fico imaginando a noiva recebendo a trágica notícia enquanto experimenta o vestido pela última vez, tornando-se viúva antes mesmo de ser uma esposa, uma anomalia, uma inversão da ordem natural das coisas. A felicidade do vestido de noiva branco sendo substituída pela tristeza negra do traje de luto.
Penso em todas as coisas a serem resolvidas: A igreja! A festa! O bolo! A viagem de lua de mel! Uma mais dolorosa que a outra!
Os convidados que não puderem ser avisados chegarão para um casamento e acabarão ficando para um velório.
Presentes e cartões remetidos com antecedência, desejando felicidades ao casal, continuarão chegando por certo tempo, assombrando uma casa mobiliada por lembranças.
Não, o sofrimento não é apenas pelo homem que morreu, mas pela morte de todo um futuro!
O falecido não era jovem, tinha 47 anos, seja lá onde esteja, não estaria arrependido de não ter se casado antes e desfrutado dos privilégios do amor em toda sua plenitude!?
Isso me faz pensar em minha própria vida, no medo tolo que as vezes sinto de mudanças, na arrogância imatura de se achar "jovem" e com a vida toda pela frente. Talvez não tenha tanto tempo assim quanto imagino, ou talvez tenha!
Essa é a questão, não sabemos! Mas de uma coisa eu sei, nunca terei uma vida completa sem minha outra metade.
Certa vez Mario Quintana, a quem respeito a sabedoria, disse:
"Não faz da tua vida um rascunho, poderás não ter tempo para passar a limpo."
Pois não farei mais rascunhos, muito menos despedidas de qualquer espécie!

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